Saúde Animal: Animais Selvagens como Pet.

Ser tutor de um animal hoje em dia é uma prática cada vez mais comum no meio social. Casas, apartamentos e fazendas são lares para diversas espécies, como cães, gatos, aves, roedores, peixes e até répteis. Todos eles, quando bem tratados e cuidados, levam uma vida saudável e tranquila.

Os animais de estimação mais comuns são gatos e cães, que se tornam membros de muitas famílias ao redor do mundo. No entanto, alguns tutores desenvolvem um gosto diferente por animais de companhia, demonstrando afeto e interesse por espécies menos comuns no convívio humano.

Muitos desses tutores, ao decidirem criar animais exóticos ou selvagens em casa, podem estar colocando em risco tanto os próprios pets quanto o meio ambiente, além de eventualmente prejudicarem a si mesmos. Abordaremos este tema de maneira imparcial, analisando as causas e consequências de ser tutor de espécies não convencionais.

O que são animais exóticos e selvagens?

Animais exóticos são espécies que não são nativas do local onde estão sendo criadas ou mantidas. Eles vêm de outras regiões, países ou continentes e, geralmente, não fazem parte da fauna local.

Por exemplo:

  • Iguanas, cobras píton e furões no Brasil.
  • Lhamas e cangurus em países fora da América do Sul e da Austrália, respectivamente.

Animais selvagens são aqueles que vivem em seu habitat natural, como florestas, savanas, desertos ou mares, e que não foram domesticados pelo ser humano. Eles possuem comportamentos instintivos e habilidades de sobrevivência próprias de seu ambiente.

Exemplos de animais selvagens:

  • Leões, tigres e elefantes (savanas e florestas).
  • Jacarés e onças (pantanais e florestas tropicais).
  • Águias e falcões (montanhas e regiões abertas).
  • Tubarões e baleias (oceanos).

Quais espécies exóticas são pets no Brasil?

No Brasil, algumas espécies exóticas são legalmente mantidas como pets, desde que adquiridas de criadouros legalizados e registrados pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).

Répteis:

  • Iguana-verde (Iguana iguana)
  • Corn snake (Pantherophis guttatus)
  • Píton-bola (Python regius)

Aves:

  • Calopsita (Nymphicus hollandicus)
  • Periquito-australiano (Melopsittacus undulatus)
  • Canário-belga (Serinus canaria)

Mamíferos:

  • Porquinho-da-índia (Cavia porcellus)
  • Chinchila (Chinchilla lanigera)
  • Furão (Mustela putorius furo)

Peixes:

  • Kinguios (Carassius auratus)
  • Betta (Betta splendens)
  • Acará-disco (Symphysodon spp.)
  • Nishikigoi (Cyprinus carpio)

Cuidados e Regulamentação

É importante que o tutor verifique as regulamentações estaduais e municipais, pois algumas regiões têm regras específicas. Além disso, a compra de animais exóticos deve ser feita apenas de estabelecimentos licenciados para garantir a legalidade e o bem-estar dos animais.

Animais Selvagens Brasileiros Legalizados como Pets:

Animais Selvagens Brasileiros Legalizados como Pets:

Aves:

  1. Calopsita e Periquito Australiano (embora sejam exóticos, são muito comuns).
  2. Papagaio-verdadeiro (necessita de registro).
  3. Canário-da-terra (quando criado legalmente).

Mamíferos:

  1. Sagui-de-tufo-branco (precisa de autorização).
  2. Sagui-de-tufo-preto (outras espécies de saguis também podem ser criadas).
  3. Porquinho-da-índia e Chinchila (são roedores exóticos, mas comuns).

Répteis:

  1. Iguana-verde (criação legalizada).
  2. Jiboia-constritora (quando nascida em cativeiro e registrada).
  3. Cágado-tigre-d’água (tartaruga aquática comum).

Peixes Ornamentais:

  1. Alguns peixes nativos, como o Acará-bandeira e o Tetra-neon, são permitidos desde que comprados de criadouros legalizados.

Cuidados Importantes:

  • Sempre adquira de criadouros credenciados pelo IBAMA.
  • Mantenha a documentação atualizada.
  • Informe-se sobre as necessidades específicas de cada espécie.

Prós e Contras da Criação de Animais Exóticos

Prós:

Companhia Diferenciada:

  1. Animais exóticos, como iguanas e papagaios, oferecem experiências únicas e curiosas.

Menos Alérgenos:

  1. Répteis, por exemplo, não soltam pelos, sendo mais adequados para pessoas alérgicas.

Personalidade Única:

  1. Muitos têm comportamentos peculiares, como a inteligência dos papagaios ou a calma das tartarugas.

Espaço e Manutenção:

  1. Alguns animais, como pequenos roedores e aves, requerem menos espaço que cães ou gatos.

Baixo Ruído:

  1. Alguns são silenciosos (como répteis), sendo ideais para apartamentos.

Contras:

Legalidade e Burocracia:

  1. Exige documentação e registro no IBAMA para garantir a legalidade.

Custo de Manutenção:

  1. Alimentação especializada e habitat controlado podem ser caros (como terrários com temperatura e umidade específicas).

Cuidados Veterinários Específicos:

  1. Nem todos os veterinários têm especialização em animais exóticos, tornando o tratamento mais difícil e caro.

Risco de Abandono:

  1. Pessoas podem desistir ao perceber as necessidades específicas ou o tempo de vida longo de algumas espécies.

Desafios Comportamentais:

  1. Alguns têm comportamentos difíceis de controlar (como mordidas de saguis).

Prós e Contras da Criação de Animais Selvagens Brasileiros

Prós:

Conexão com a Biodiversidade Local:

  1. Criar um animal nativo contribui para valorizar a fauna brasileira e conhecer mais sobre a biodiversidade.

Adaptação ao Clima:

  1. Por serem espécies nativas, estão mais bem adaptados ao clima e às condições ambientais do Brasil.

Experiência Única:

  1. Animais como saguis e papagaios têm comportamentos interessantes e podem criar laços afetivos com o tutor.

Preservação Legalizada:

  1. Quando adquiridos de criadouros legais, ajudam na conservação da espécie e evitam o tráfico de animais.

Contras:

Legalidade e Fiscalização:

  1. A criação ilegal de animais selvagens é crime e pode levar a multas e apreensão do animal.

Cuidados Específicos:

  1. Alguns animais têm necessidades ambientais complexas, como temperatura, umidade e alimentação específica.

Comportamento Imprevisível:

  1. Mesmo quando criados em cativeiro, alguns animais mantêm instintos selvagens, como ataques ou tentativas de fuga.

Impacto na Saúde Pública:

  1. Podem transmitir zoonoses, como febre maculosa (em saguis) ou salmonelose (em répteis).

Alto Custo:

  1. Manter um ambiente adequado e garantir alimentação e cuidados veterinários pode ser financeiramente exigente.

Impactos Ambientais das espécies exóticas no Brasil.

Espécies exóticas são organismos que foram introduzidos em regiões fora de sua distribuição natural, seja por ação humana intencional ou acidental. Quando se tornam invasoras, podem causar sérios problemas ambientais, econômicos e sociais.

Principais Impactos Ambientais:

Perda da Biodiversidade:

  1. Espécies exóticas podem competir com as nativas por recursos, levando ao declínio ou extinção das espécies locais.
  2. Exemplo: O javali-europeu (Sus scrofa) ameaça animais nativos e destrói habitats.

Degradação de Habitats:

  1. Algumas espécies invasoras modificam ecossistemas inteiros, afetando a flora e a fauna locais.
  2. Exemplo: O pinus ocupa áreas de cerrado e campos, prejudicando espécies nativas.

Mudança na Dinâmica do Ecossistema:

  1. A introdução de espécies predadoras ou herbívoras pode alterar cadeias alimentares.
  2. Exemplo: O caramujo-africano (Achatina fulica) compete com moluscos nativos e transmite doenças.

 Hibridização e Perda Genética:

  1. O cruzamento entre espécies exóticas e nativas pode gerar híbridos, enfraquecendo a identidade genética local.
  2. Exemplo: A introdução de abelhas africanizadas impactou a genética de abelhas nativas.

Disseminação de Doenças:

  1. Espécies exóticas podem ser portadoras de patógenos que ameaçam a fauna nativa.
  2. Exemplo: O mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei) pode proliferar doenças em ambientes aquáticos.

Impactos Econômicos:

  • Perda de produtividade agrícola e pecuária devido a espécies invasoras (como o javali).
  • Custos elevados para controle e erradicação (como no caso do mexilhão-dourado em sistemas de água).
  • Danos ao turismo e às atividades pesqueiras.

Impactos Ambientais da Criação de Animais Selvagens Brasileiros

A criação de animais selvagens nativos do Brasil pode gerar uma série de impactos ambientais, especialmente quando não é realizada de forma responsável e legalizada.

Tráfico e Captura Ilegal:

  • A demanda por animais silvestres como pets incentiva o tráfico ilegal, que é a terceira maior atividade ilícita do mundo.
  • A captura de animais na natureza compromete populações locais e pode levar espécies à extinção.
  • Exemplo: A retirada ilegal de papagaios e araras dos biomas brasileiros.

Risco de Fuga e Invasão Biológica:

  • Animais que escapam ou são soltos na natureza podem se tornar espécies invasoras, afetando ecossistemas locais.
  • O cruzamento com populações selvagens pode comprometer a genética das espécies nativas.
  • Exemplo: Saguis de espécies não nativas competindo com saguis locais.

Transmissão de Doenças:

  • O contato próximo com humanos pode favorecer a disseminação de zoonoses, tanto para outros animais quanto para pessoas.
  • Animais levados de uma região para outra podem introduzir doenças em áreas que não têm resistência natural.
  • Exemplo: Primatas como saguis podem transmitir febre amarela e herpes B.

Impacto no Equilíbrio Ecológico:

  • A retirada de um animal do seu habitat pode afetar cadeias alimentares e funções ecológicas.
  • Espécies que atuam na dispersão de sementes ou no controle populacional de outros animais podem causar desequilíbrios quando removidas.
  • Exemplo: A caça de grandes predadores, como onças, reduz o controle de populações de herbívoros.

Problemas Econômicos e Sociais:

  • O aumento da criação ilegal sobrecarrega as operações de fiscalização e controle ambiental.
  • O tratamento de doenças zoonóticas pode gerar custos para o sistema de saúde pública.
  • A introdução acidental de animais pode causar prejuízos a produtores locais.

Reflexões sobre a Criação e o Manejo de Animais Selvagens e Exóticos

Nas redes sociais, é comum encontrar milhares de imagens e vídeos de pessoas manuseando ou até brincando com animais que, muitas vezes, não são nativos do país de origem ou são considerados selvagens. Esses animais podem variar de pequeno a grande porte, despertando curiosidade e admiração.

Quando realizada de forma legalizada e controlada, a criação e o manejo desses animais não constituem crime, e qualquer cidadão que cumpra as exigências legais pode se tornar tutor de diversas espécies, inclusive as consideradas perigosas. No entanto, a grande questão não é apenas possuir uma píton ou até uma onça-pintada como animal de estimação, mas sim os riscos e responsabilidades que a manutenção desses animais pode acarretar — tanto para o tutor quanto para terceiros.

Na internet, há inúmeros relatos de pessoas que criavam em casa animais selvagens e exóticos, como capivaras e até serpentes peçonhentas, e que acabaram enfrentando consequências graves. Em alguns casos, essas situações resultaram em ferimentos graves e até óbitos, devido a ataques com mordidas e arranhões.

Se até mesmo animais domésticos, comuns na sociedade, como cães, podem atacar e provocar sérios danos aos seus tutores, imagine o risco ao conviver com espécies selvagens, como tigres, leões, onças e até hipopótamos. Animais selvagens e exóticos devem ser tratados com o máximo respeito, considerando as características específicas de cada espécie.

Vídeos que mostram pessoas acariciando tigres ou até crocodilos não devem ser encarados de forma banal. O manejo desses animais exige controle total e deve ser realizado exclusivamente por profissionais credenciados e habilitados para lidar com cada espécie específica. Mesmo assim, mesmo com toda a experiência acumulada por tratadores especializados, os riscos permanecem, e acidentes ainda podem ocorrer.

O essencial é respeitar cada espécie e reconhecer que animais selvagens, como a onça-pintada, não são animais de estimação. Determinadas espécies não devem ser mantidas fora de seus habitats naturais ou inseridas em ambientes inadequados, pois isso pode comprometer tanto o bem-estar dos animais quanto a segurança humana.

A educação e a conscientização são fundamentais para entendermos que muitos animais, por mais belos e interessantes que sejam, merecem nosso respeito. Tentar modificar sua natureza não é apenas um desrespeito à vida selvagem, mas também um risco para os próprios seres humanos.

Inúmeros casos de desequilíbrio ambiental e ataques poderiam ser evitados com o simples bom senso de reconhecer que um tigre não é um gato doméstico e que uma píton não é uma minhoca. Respeitar as características e os instintos naturais desses animais é essencial para garantir tanto a segurança humana quanto o bem-estar animal.