Abaixo o Preconceito Animal: Corujas

Muitas espécies de animais são envolvidas em mitos e crenças populares por motivos infundados ou pela falta de conhecimento. Isso acarreta uma série de problemas, não apenas para os próprios animais, que acabam sendo vítimas de preconceito e perseguição, mas também para a população e o meio ambiente em que esses animais estão inseridos. Com o tempo, as consequências desse desequilíbrio tornam-se evidentes, causando prejuízos e desconforto para todos os envolvidos.

Uma das espécies que sofrem são as corujas aves que, ao longo da história, foram cercadas por diversas crenças, lendas e interpretações culturais. Em muitas sociedades, elas são associadas a elementos místicos — tanto positivos quanto negativos — geralmente motivados por desconhecimento ou observações superficiais de seu comportamento noturno e aparência incomum.

Em algumas culturas, como a grega, a coruja é símbolo de sabedoria e conhecimento, sendo associada à deusa Atena. Já em outras tradições, especialmente em áreas rurais ou com forte influência de mitos populares, a presença da coruja é vista como mau presságio, relacionada à morte, azar ou bruxaria.

Essas crenças, muitas vezes sem base científica, resultam em perseguição e morte desses animais. No entanto, as corujas desempenham um papel ecológico fundamental que destacaremos agora.

Características 

Atualmente, existem cerca de 250 espécies de corujas no mundo, distribuídas em duas famílias principais:

Tytonidae – inclui as corujas-das-torres (como a suindara ou Tyto alba)

Strigidae – a maior família, que abrange a maioria das espécies de corujas

O Brasil abriga cerca de 24 espécies de corujas, graças à sua grande diversidade de biomas (como Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e Caatinga).

Entre as espécies mais conhecidas no país, destacam-se:

  • Coruja-buraqueira (Athene cunicularia) – comum em áreas abertas e urbanas
  • Suindara (Tyto furcata ou Tyto alba) – associada a celeiros e ruínas
  • Coruja-do-mato (Strix virgata) – típica de florestas
  • Mocho-diabo (Asio stygius) – com “orelhas” proeminentes
  • Caburé (Glaucidium brasilianum) – uma das menores corujas do país

Morfologia da Coruja

As corujas pertencem à ordem Strigiformes e apresentam uma série de adaptações morfológicas que as tornam excelentes predadoras noturnas. Veja os principais aspectos:

Cabeça e olhos

  • Cabeça larga e arredondada, geralmente com movimento altamente flexível — elas podem girar a cabeça em até 270 graus.
  • Olhos grandes e voltados para frente, proporcionando visão binocular (essencial para calcular distâncias).
  • Diferentemente de outras aves, os olhos das corujas são fixos nas órbitas, o que torna o movimento do pescoço ainda mais importante.
  • Visão noturna extremamente aguçada, adaptada para ambientes com pouca luz.

Bico

  • Curvo, curto e afiado, ideal para rasgar a carne de suas presas.
  • Quase sempre parcialmente oculto pelas penas da face.

Disco facial

  • Estrutura de penas em formato de “disco” ao redor dos olhos.
  • Funciona como uma espécie de “parabólica sonora”, direcionando sons aos ouvidos — o que reforça a capacidade auditiva da coruja.

Audição

  • Altamente desenvolvida, com ouvidos assimétricos em algumas espécies, permitindo localizar presas pelo som com extrema precisão — mesmo no escuro total.

Corpo

  • Corpo robusto e compacto, com plumagem densa e macia, que amortece o som do voo, tornando-o silencioso.
  • As cores das penas variam entre tons de marrom, cinza, branco e preto, oferecendo camuflagem eficaz em troncos e galhos.

Asas e voo

  • Asas largas e arredondadas, ideais para voos curtos e silenciosos.
  • As penas são adaptadas com bordas especiais que reduzem o ruído do ar durante o voo.

Pés e garras

  • Pés fortes com garras afiadas (garras raptoriais), usados para capturar e matar presas.
  • Dedos com disposição chamada zigodáctila: dois voltados para frente e dois para trás — o que dá firmeza ao agarrar.

Reprodução das Corujas no Brasil

A reprodução das corujas no Brasil varia um pouco entre espécies, mas no geral, elas seguem padrões semelhantes, com adaptações ao clima e aos biomas brasileiros.

Época de reprodução

  • Na maioria das regiões do Brasil, a reprodução ocorre entre o fim da estação chuvosa e o início da seca (geralmente entre agosto e novembro).
  • Essa escolha coincide com maior oferta de presas para alimentar os filhotes.

Acasalamento e ninho

  • Corujas formam pares monogâmicos, geralmente durante a estação reprodutiva. Algumas espécies permanecem juntas por vários anos.
  • Os rituais de acasalamento envolvem vocalizações, oferendas de alimento e voos de exibição.
  • As corujas não constroem ninhos elaborados. Em vez disso, usam cavidades em árvores, buracos no solo (como a coruja-buraqueira), fendas em rochas ou construções humanas abandonadas.

Postura e incubação

  • A fêmea põe, em média, 2 a 6 ovos brancos, dependendo da espécie.
  • Ela os incuba por cerca de 25 a 35 dias, enquanto o macho caça e traz alimento.

Filhotes

  • Os filhotes nascem cegos e cobertos por penugem branca, completamente dependentes dos pais.
  • A mãe permanece com eles por algumas semanas após o nascimento, protegendo e aquecendo-os.
  • Após cerca de 4 a 8 semanas, os jovens começam a sair do ninho e praticar voo.
  • Mesmo após saírem do ninho, continuam sendo alimentados e treinados pelos pais por mais algumas semanas.

Maturidade sexual

  • Corujas atingem a maturidade reprodutiva entre 1 e 2 anos de idade, dependendo da espécie.
  • Usa tocas no solo (às vezes escavadas por outros animais como tatus).
  • Pode ser vista facilmente em áreas urbanas e campos abertos.
  • É uma das espécies mais adaptáveis do Brasil

Porque existe o preconceito com esses animais?

O preconceito contra as corujas tem raízes históricas, culturais e religiosas, muitas vezes alimentado pelo desconhecimento sobre seu comportamento natural.

Hábitos noturnos

  • Corujas são aves noturnas, e durante muito tempo, tudo o que era ativo à noite era associado a mistério, perigo ou forças do mal.
  • O voo silencioso, o canto sombrio e os olhos penetrantes causaram medo e desconfiança em muitas culturas.

Mitologias e superstições

  • Em algumas culturas antigas, a coruja era vista como mensageira da morte ou presságio de má sorte.
  • No Brasil, especialmente em áreas rurais, ainda é comum ouvir que o canto da coruja anuncia morte ou desgraça.
  • Tais lendas foram passadas de geração em geração, sem base científica, e continuam alimentando o preconceito.

Aparência incomum

  • Seus olhos grandes e fixos, cabeça giratória e o fato de ficarem imóveis por longos períodos fazem com que muitas pessoas as vejam como “estranhas” ou “assustadoras”.

Falta de educação ambiental

  • A ausência de informação sobre o papel ecológico positivo das corujas contribui para que as pessoas julguem pela aparência ou por lendas.
  • A falta de contato com a fauna silvestre também contribui para a formação de mitos negativos.

Consequências do preconceito

  • Muitas corujas são mortas propositalmente por medo ou ignorância.
  • Isso afeta o controle natural de pragas e o equilíbrio ecológico, prejudicando até a agricultura.

 Importância Ecológica das Corujas

As corujas exercem funções vitais na natureza, principalmente como predadoras de topo em seus habitats. Seu desaparecimento pode causar desequilíbrios significativos no meio ambiente.

Controle populacional de pragas

  • Corujas alimentam-se principalmente de roedores, insetos, pequenos répteis e anfíbios.
  • Uma única coruja pode consumir dezenas de ratos por noite, ajudando no controle de pragas agrícolas e urbanas.
  • Isso reduz a necessidade de uso de venenos, que contaminam o solo e outros animais.

Equilíbrio ecológico

  • Ao manter sob controle as populações de presas, as corujas evitam a superpopulação de determinadas espécies que poderiam afetar lavouras, espalhar doenças ou competir com outras espécies nativas.
  • Elas contribuem para a diversidade ecológica, mantendo a cadeia alimentar estável.

Papel cultural e educacional

  • Embora envoltas em mitos, as corujas podem ser aliadas na educação ambiental, despertando o interesse de crianças e adultos para a conservação da natureza.
  • Projetos de observação de aves e reabilitação de corujas ajudam a conscientizar sobre o valor da fauna silvestre.

Conhecimento e Educação

Combater essas místicas e promover a educação ambiental é essencial para proteger as corujas e preservar o equilíbrio dos ecossistemas dos quais fazem parte. Conhecimento e respeito são os primeiros passos para quebrar o ciclo de medo e preconceito que ainda afeta essas aves tão importantes.

A proteção das corujas é fundamental não apenas por serem belas e misteriosas, mas por seu papel ecológico insubstituível. Proteger as corujas significa também proteger agricultura, saúde pública e biodiversidade.

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Elizete
Elizete
1 mês atrás

A coruja na mitogia grega,representa, a Deusa da Sabedoria,é a filha de Zeus.Eu particularmente, admiro muito,acho um animal,bonito,ela representa,estratégia militar,nos combates.