
Os lobos estão presentes em quase todos os continentes, sendo encontrados naturalmente na América do Norte, Europa, Ásia e, em algumas regiões do norte da África. A espécie mais comum é o lobo-cinzento (Canis lupus). No entanto, não há lobos nativos na América do Sul, na Antártida ou na Austrália. Embora o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) seja popularmente chamado de “lobo”, ele não pertence ao gênero Canis. Trata-se de um canídeo com características distintas de muitas outras espécies da família Canidae
Características
Habitat
O lobo-guará é encontrado principalmente no Cerrado brasileiro, mas também pode ser visto em outros biomas, como o Pantanal, a Mata Atlântica e partes do Pampa e da Caatinga. Ele é mais comum nos estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Tocantins e Bahia, além do Distrito Federal. Também pode ser encontrado em áreas do Paraná, Rio Grande do Sul, Piauí e Maranhão.
Esse animal prefere regiões abertas, como campos e cerrados, onde há vegetação rasteira e arbustos esparsos. Devido ao desmatamento e à expansão agrícola, seu habitat tem sido reduzido, tornando-o uma espécie quase ameaçada de extinção.

Características físicas
É um canídeo de aparência única, caracterizado por suas longas pernas, pelagem avermelhada e corpo esguio. Ele pode atingir cerca de 1 metro de altura até os ombros e medir até 1,3 metros de comprimento, sem contar a cauda, que pode ter mais 40 centímetros. Seu peso varia entre 20 e 30 quilos.
Uma de suas características mais marcantes são as pernas alongadas, que o ajudam a se deslocar pelas altas vegetações do Cerrado. Sua pelagem é densa e avermelhada, com partes pretas nas patas e no focinho, além de uma mancha branca na ponta da cauda e na garganta.
Comportamento
A reprodução do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) ocorre uma vez por ano, geralmente entre abril e junho.
Maturidade sexual: Ocorre por volta de 1 a 2 anos de idade.
Acasalamento: Os lobos-guarás são monogâmicos, ou seja, formam pares que permanecem juntos por longos períodos, embora sejam animais solitários na maior parte do tempo.
Gestação: Dura aproximadamente 65 dias.
Ninhada: A fêmea dá à luz de 2 a 6 filhotes.
Cuidados parentais: O macho participa da proteção dos filhotes, mas a mãe é a principal responsável pela amamentação e cuidado nos primeiros meses.
Desenvolvimento dos filhotes: Eles nascem com a pelagem escura e começam a desenvolver a coloração avermelhada característica após algumas semanas.
Os filhotes permanecem com a mãe por cerca de 1 ano, aprendendo a caçar e sobreviver antes de se tornarem independentes.

Sua dieta é onívora e bastante variada, incluindo pequenos animais, insetos e frutos, como a lobeira, que é fundamental para sua alimentação.
O lobo-guará gosta de frutas, e uma das suas preferidas é a fruta-do-lobo (Solanum lycocarpum), que parece um pequeno mamão. Embora não existam muitos registros de lobos-guarás chupando cana, é possível que, em áreas onde a cana-de-açúcar está disponível, eles possam experimentar, já que têm uma dieta onívora e gostam de alimentos doces. Mas dizer que “chupa cana” como um hábito seria exagero! Ele prefere frutas nativas, pequenos animais e insetos.
O lobo-guará não é um animal agressivo. Ele é, na verdade, bastante tímido e evita o contato com humanos sempre que possível. Diferente de outros canídeos, como lobos-cinzentos ou cães selvagens, o lobo-guará tem um comportamento solitário e não costuma caçar em matilhas.
Ele pode mostrar sinais de agressividade se sentir-se ameaçado ou encurralado, como qualquer animal selvagem, mas, no geral, prefere fugir a enfrentar um conflito. Se avistar um lobo-guará na natureza, o melhor a fazer é manter distância e não tentar se aproximar.

Importância Ecológica
O lobo-guará desempenha um papel ecológico fundamental nos ecossistemas onde vive, especialmente no Cerrado brasileiro. Sua importância ecológica pode ser destacada em vários aspectos:
Controle Populacional: Como um predador de topo, o lobo-guará ajuda a controlar as populações de pequenos mamíferos, aves e insetos, evitando superpopulações que poderiam desequilibrar o ecossistema.
Dispersor de Sementes: Ele se alimenta de frutos nativos, como a lobeira (Solanum lycocarpum), e espalha suas sementes por meio das fezes, ajudando na regeneração da vegetação e na manutenção da biodiversidade.
Indicador Ambiental: A presença do lobo-guará em determinada área pode indicar a boa qualidade ambiental do local. A redução de sua população pode ser um sinal de degradação do habitat.
Manutenção do Equilíbrio do Cerrado: Como espécie onívora, o lobo-guará desempenha um papel crucial na cadeia alimentar, garantindo que diferentes populações de presas e plantas permaneçam em equilíbrio.
Conservação

Infelizmente, a espécie enfrenta diversas ameaças, como a perda de habitat devido ao desmatamento, atropelamentos e conflitos com os seres humanos. Sua conservação é crucial para manter o equilíbrio ecológico do Cerrado e de outros biomas onde habita. O lobo-guará é uma espécie vulnerável à extinção, e sua preservação depende da proteção do Cerrado e da mitigação dos impactos causados pelas atividades humanas. Na história dos lobos, especialmente do nosso canídeo que não é lobo, o verdadeiro ‘lobo mau’ é a falta de conhecimento, o preconceito contra a espécie e a contínua destruição de seu habitat. No fim, somos nós, humanos, que representamos o verdadeiro ‘lobo mau’ da vida real.